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NOITES 

ASSOMBRADAS

Histórias que vão além da realidade

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     Medo todo mundo tem, mas alguns são maiores e piores que outros. Há quem diga que quanto mais você acredita no seu medo, mais ele pode se tornar real. É normal ter mais insegurança à noite, já que o escuro, de certa forma, faz referência ao apavoramento. 

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       Por questões históricas, as mulheres são as que mais têm medo. A insegurança é sobre andar sozinha à noite, ficar sozinha em casa, ver ou ouvir coisas sobrenaturais no ambiente de trabalho - principalmente as que vivem a rotina noturna. 

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     A rotina das mulheres que trabalham à noite é muito corrida, e segundo a pesquisadora Frida Marina Fischer, a falta de sono pode gerar alucinações, fazendo assim com que a sensação de medo se torne verídico.

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      Flávia Fernandes Garcia, 26, trabalha na Rádio Metropolitana FM (SP), onde produz e apresenta o programa Cafeina Leite Show, transmitido da meia noite às duas horas da manhã, e da mesma maneira em que temos aquele grande medo de quebrar um espelho (pois ele nos dará sete anos de azar), a produtora também tem um medo enorme: a janela espelhada do estúdio, na frente do seu computador, reflete para ela vultos inexplicáveis. “Fantasma é o que mais tem aqui. Eu vejo coisas passando atrás de mim, cadeira mexendo, porta do banheiro abrindo e fechando. Todo mundo que trabalha à noite já viu alguma coisa aqui (...). Já aconteceu de eu estar com a blusa amarrada na cintura com dois nós, e do nada alguém puxar”, comenta, com o semblante entre engraçado e assustado.         

     Sentir a presença de seres não vivos no trabalho noturno não é uma particularidade de Flávia. A operadora de máquina Lilian Rodrigues dos Santos, 46, trabalha na indústria da Magneti Marelli, em Mauá, e conta que em um dia sentiu sono e decidiu tirar alguns minutos para descansar no vestiário. Ao entrar em uma das cabines de troca de roupa, Lilian sentiu que tinha alguém junto com ela, mas não identificou quem era. Foi quando ela se assustou com um barulho forte, como se alguém estivesse batendo na porta. A trabalhadora foi ver o que era e... não tinha nada nem ninguém no local. “Eu quero dormir um pouco, me deixa em paz”, falou Lilian, para os temidos fantasmas. 

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     O medo do escuro, também conhecido por nictofobia, acontece em diferentes situações. O psicólogo Thiago Vinicius Monteleone cita que este sintoma está dentro do espectro da ansiedade: “as pessoas tendem a não querer dormir sozinhas, colocar uma lâmpada ou outra condição que evite o contato direto com o escuro”.

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     Pela primeira vez a gerente de uma das redes do Cinemark, Katia Rafaela da Silva Reis, 27, está tendo a experiência de trabalhar à noite. Em dois anos e meio, houve uma situação que constrangeu a mulher e não a deixou dormir durante algumas noites. “Eu saio e apago as luzes, mas nesse dia uma funcionária acabou fazendo isso. Ao sair, ela me avisou que tinha ouvido crianças chorando. Deixamos para lá, pois as salas são vistoriadas antes do fechamento, porém, quando descemos de elevador um dos seguranças nos pediu para voltar para procurar duas crianças que tinham ficado presas em uma das salas do cinema. Nós voltamos e procuramos em todos os ambientes e por incrível que pareça, não encontramos ninguém”, diz, mostrando incertezas.

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     Monteleone ainda explica que o fato pode ser trabalhado para melhorar a fobia. “Qualquer fobia não é inata (...) a causa da fobia está na relação da pessoa com o escuro, então temos uma série de possibilidades, e tudo vai depender da pessoa”, finaliza.

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    Vanessa Moreno Marques, 41, trabalha no setor de transferência do hospital Albert Sabin, em São Caetano do Sul. A mulher é espírita e diz não sentir medo, mesmo trabalhando à noite em um lugar tecnicamente vazio. As alas hospitalares aterrorizam as pessoas e apesar de sentir-se segura, Vanessa teve um episódio constrangedor em seu ambiente de trabalho. Antes de mudar para o hospital atual, a mulher trabalhava no Hospital São Caetano - o qual tinha andares vazios. Um dia ela utilizou o elevador do prédio para se deslocar e, como o equipamento estava com problemas, inesperadamente parou no sétimo andar. Aí, apesar de qualquer crença, o medo tomou conta: “na hora que chegou no sétimo andar, que abriu as portas e eu vi aquele breu, aquela escuridão, eu falei: meu Deus! Me deu um choque, mas, felizmente, rapidinho o elevador desceu”. 

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   As histórias se encontram a partir de um ponto em comum: a incerteza de saber o que pode ou não ser verdadeiro no calar da noite. 

Thiago Vinicius Monteleone
Lilian Rodrigues dos Santos
Flávia Fernandes Garcia

Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo da USCS - 2019

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